Emendas de R$ 35,6 Milhões Foram Destinadas a Shows e Luzes LED, Mas Não à Ponte Que Matou 17 Pessoas

No Estadão

Desde 2022, o Congresso Nacional direcionou R$ 35,6 milhões em emendas parlamentares para as cidades de Estreito (MA) e Aguiarnópolis (TO), conectadas pela ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira, que desabou no último dia 22. A tragédia resultou em 17 mortes e deixou uma pessoa hospitalizada. Apesar da gravidade da situação estrutural da ponte, nenhuma verba foi destinada ao reparo da estrutura, que já apresentava danos severos desde 2020, conforme relatório do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).

Verba Direcionada para Outros Fins

As emendas parlamentares financiadas para as duas cidades foram destinadas a projetos variados, como a construção de um abatedouro e eventos culturais, incluindo shows de artistas sertanejos e evangélicos. A prefeitura de Aguiarnópolis, que tem apenas 4,5 mil habitantes, utilizou R$ 1,2 milhão em emendas para organizar 11 shows desde 2023. Somente o aniversário da cidade, em maio deste ano, custou R$ 753 mil em cachês de artistas como Nadson O Ferinha e Davi Sacer.

Em Estreito, com 34 mil habitantes, as emendas parlamentares foram aplicadas na pavimentação de ruas, construção de um abatedouro e reformas de espaços públicos, sem qualquer alocação para manutenção da ponte.

Senadoras Apontam Falhas de Comunicação

A coordenadora da bancada do Maranhão, senadora Eliziane Gama (PSD), afirmou que o Dnit não solicitou verbas para a ponte na lista de prioridades enviada ao Congresso. Ela também destacou que a responsabilidade pela estrutura é da superintendência do órgão em Tocantins.

A senadora Professora Dorinha Seabra (União Brasil-TO), coordenadora da bancada tocantinense, reforçou que os parlamentares do estado não foram informados sobre problemas na ponte. “É uma ponte federal, e cabia ao Dnit cuidar disso”, disse.

Dorinha também defendeu a utilização de recursos para eventos culturais, argumentando que as emendas Pix enviadas ao município não poderiam ser redirecionadas para infraestrutura da ponte.

Contexto Histórico da Ponte

Construída em 1958, a ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira tinha 533 metros de extensão e foi considerada um marco de engenharia na época. Contudo, sua última manutenção significativa ocorreu entre 1998 e 2000. O custo estimado para a reconstrução da estrutura é de R$ 100 a R$ 150 milhões, com previsão de conclusão em até um ano, segundo o Ministério dos Transportes.

Investimentos Insuficientes em Infraestrutura

Especialista em infraestrutura, o economista Claudio Frischtak afirma que o Brasil investe apenas 1,9% do PIB em infraestrutura, enquanto o ideal seria entre 4% e 4,5%. “Ao contrário dos diamantes, as pontes não são eternas. Elas têm vida útil de 30 a 40 anos”, explicou.

De acordo com Frischtak, os investimentos públicos no país frequentemente carecem de qualidade, com obras que sofrem atrasos e ultrapassam os custos previstos. A tragédia na ponte evidencia as consequências dessa má gestão, ressaltando a necessidade urgente de priorizar investimentos em manutenção e segurança de estruturas essenciais.

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