“Resort do Crime”: Presídio em Pernambuco Tinha Venda de Camas, Tráfico de Drogas e Festas Privadas

MPF denuncia esquema milionário de corrupção no Presídio de Igarassu; superlotação ultrapassa 400%

Um presídio transformado em verdadeiro “resort do crime”. Assim o Ministério Público Federal (MPF) descreveu a situação do Presídio de Igarassu, no Grande Recife, onde detentos compravam espaços para dormir, traficavam drogas e até organizavam festas privadas, tudo sob a conivência de agentes penitenciários e do então diretor da unidade.

As revelações fazem parte de um relatório divulgado nesta terça-feira (18) pelo MPF, que identificou um esquema de corrupção institucionalizada em 11 unidades prisionais de Pernambuco. O documento foi elaborado com base em inspeções realizadas em 2024 e serviu de base para a Operação La Catedral, deflagrada em fevereiro pela Polícia Federal.

Superlotação, tráfico e vida de luxo na prisão

De acordo com o relatório, o presídio operava com um nível absurdo de superlotação: enquanto a capacidade era de 1.226 detentos, o local abrigava 5.645 presos — um excedente de 460%. Mas os problemas iam muito além da falta de espaço.

Com a conivência do então diretor, Charles Belarmino de Queiroz, e de agentes penitenciários, criminosos controlavam a rotina dentro da cadeia. Entre as irregularidades constatadas, estavam:

✅ Venda de espaços para dormir;
✅ Tráfico de drogas dentro do presídio;
✅ “Chaveiros” — presos que controlavam as celas e impunham suas próprias regras;
✅ Festas privadas organizadas por detentos;
✅ Um verdadeiro laboratório de drogas funcionando dentro da unidade.

O nível de corrupção era tão explícito que, durante a inspeção, o então diretor chegou a rir das acusações e ironizar os fiscais do MPF. “Não tenho controle de nada aqui”, teria dito ele, segundo o relatório.

Falta de agentes e caos no sistema penitenciário

A investigação revelou um déficit crítico de policiais penais. No Presídio de Igarassu, onde seriam necessários mais de 900 agentes, apenas 90 estavam na ativa — o que resultava em uma média de apenas 15 profissionais por plantão.

A crise, no entanto, não é isolada. Outras unidades inspecionadas pelo MPF também apresentaram problemas alarmantes, como superlotação extrema, venda de celas “VIP” com banheiro privativo e televisão, além de condições sanitárias precárias.

O Complexo do Curado, por exemplo, já havia sido denunciado à Corte Interamericana de Direitos Humanos e levou o Brasil a ser condenado em 2018. Agora, segundo o MPF, o Presídio de Igarassu vive uma realidade semelhante.

E agora? Quais serão as providências?

O relatório foi encaminhado para diversas instituições, incluindo o Conselho Nacional de Justiça, o Conselho Nacional do Ministério Público e a Secretaria de Cooperação Internacional do MPF. O objetivo é que organismos internacionais pressionem por mudanças urgentes no sistema prisional de Pernambuco.

Enquanto isso, a pergunta que fica é: quantos outros “resorts do crime” ainda operam livremente dentro das prisões brasileiras?

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