Governo Lula Atrasa Pagamento da Operação Carro-Pipa e Deixa 1,3 Milhão Sem Água
Operadores de carros-pipa, responsáveis por abastecer comunidades rurais no semiárido nordestino, estão sem receber pelos serviços prestados desde dezembro de 2024. Eles alertam que, caso os pagamentos não sejam regularizados até a próxima semana, o abastecimento de água será interrompido, deixando mais de 1,3 milhão de pessoas sem acesso ao líquido vital. O governo federal justifica o atraso pelo processo de aprovação do orçamento e a implementação de um decreto de contingenciamento.

Segundo informações obtidas pelo UOL, o problema tem afetado especialmente os estados de Alagoas, Rio Grande do Norte e Pernambuco, com relatos de pipeiros sobre a falta de pagamento, embora o levantamento não tenha alcançado todos os estados. Em fevereiro de 2025, o serviço de abastecimento de água via carros-pipa beneficiou 1.387.314 pessoas em 392 municípios de oito estados do Nordeste. Ao todo, 2.834 prestadores de serviço estão contratados para atender à população necessitada.
A operação Carro-Pipa, iniciada em 2012, visa fornecer água a comunidades localizadas em regiões afetadas por seca ou estiagem, com decretos de situação de emergência ou calamidade pública reconhecidos pelo governo federal. Cada família tem direito a 20 litros de água por pessoa diariamente.
Governo alega falta de recursos financeiros
Em contato com o Escritório Nacional da Operação Carro-Pipa, vinculado ao Exército, o UOL obteve a informação de que os prestadores de serviço não receberam o pagamento devido a questões orçamentárias. O repasse de verbas para a operação é responsabilidade do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), que confirmou o atraso na liberação dos recursos. Em nota, a pasta explicou que o repasse está condicionado à aprovação da Lei Orçamentária Anual de 2025 e à publicação do decreto de contingenciamento.
Além disso, a coluna entrou em contato com o Ministério da Fazenda para esclarecer a previsão de publicação do decreto ou um possível corte no orçamento da operação, mas foi orientada a procurar o Ministério do Planejamento e Orçamento. Até o momento da publicação desta reportagem, o ministério não havia respondido.
Em 2024, o orçamento estimado para a operação foi de R$ 696 milhões, dos quais R$ 626 milhões foram empenhados e R$ 497 milhões pagos. No entanto, como o orçamento de 2025 ainda não foi aprovado, não há definição sobre os recursos a serem destinados à operação neste ano.
Protestos e dificuldades no campo
Na quarta-feira (26), pipeiros realizaram protestos em cidades de Pernambuco, paralisando os serviços em Bom Jardim, no interior do estado. Alguns operadores que participaram do protesto, embora optando por não se identificar, relataram que a situação está insustentável. “São três meses sem receber, e tem gente que não recebeu nem os valores de novembro. Além disso, o aumento de 50 centavos no óleo diesel piorou ainda mais as condições financeiras”, afirmou um dos pipeiros, que atua no sertão de Alagoas.
Histórico de problemas orçamentários
Este não é o primeiro episódio de dificuldades financeiras para a operação. Em novembro de 2024, o Exército alertou sobre a possibilidade de suspender o serviço devido à falta de recursos. No entanto, a situação foi contornada rapidamente pelo governo, que negou o corte e atribuiu o impasse a um erro burocrático na liberação dos valores.
Em 2022, no governo de Jair Bolsonaro, a operação Carro-Pipa também enfrentou a suspensão do serviço, o que gerou críticas, inclusive de aliados do então presidente. Após a pressão, o governo suplementou a verba para a operação, mas a liberação durou apenas até dezembro, quando o abastecimento foi novamente interrompido, voltando apenas em 2023, sob a gestão de Lula.
Com a crescente escassez de recursos e a incerteza sobre o futuro da operação, os nordestinos que dependem dos carros-pipa enfrentam uma ameaça real de ficar sem água, aumentando ainda mais os desafios impostos pela seca e pela escassez hídrica na região.